CHINELO OU DESERÇÃO


Dia 11 de abril

Feriado de Páscoa, mamãe e eu descemos para o litoral.

Embora não tão quente como o verão, o clima está maravilhoso, céu azul, sol o dia todo e a lotação da praia é ideal, sem aquele populacho lotando a areia e a calçada, ouvindo som alto, enchendo o saco!

Temos que aproveitar essas ocasiões, afinal estamos entrando no outono, logo vai esfriar de vez e na próxima ocasião que viermos pra praia a família estará maior, com a presença do pequeno Theo.

Felizmente, minha esposa, assim como eu, adora praia, sol e calor! E o Theo? Será que também vai ser assim?  Dizem que o fruto não cai longe do pé, mas... E se cair? E se ele não gostar das coisas que eu gosto?

E se ele não quiser vir para a praia com os pais? E se ele não fizer fotossíntese como o papai e a mamãe? Vou achar ruim, mas aceitar. Afinal, filho é filho.

Hum... E se ele não gostar de rock, como o pai? E se ele for um pagodeiro? E se ele ouvir axé? Sertanejo? O que eu faço? Vou lamentar bastante, mas terei que aceitar, fazer o quê? (desde que ele ponha o volume bem baixo e feche a porta do quarto pra porcaria não chegar a meus ouvidos...)

E se ele for um verdinho, desses que acha que comer carne é errado? Nossa, vou lamentar muito, mas muito mesmo (o que farei com a churrasqueira de minha futura mansão?) e, no fim das contas... Terei que aceitar, né? Fazer o quê?

Sashimi então? Nossa, vai ter que ficar em casa sozinho enquanto seus pais contribuem para a extinção do atum!

E se ele não gostar de um belo vinho? Ou de uma gelada, nesse calor?

Certa feita, quando era pequeno, segundo relatos familiares, fiquei bêbado e saí trançando as pernas ao lamber o dedo molhado em um copo de cerveja. Acho que foi aí que tudo começou... E é por isso que nesse momento interrompo por dois minutos esse texto para buscar uma cerveja, esse papo deu sede!

Um gole depois

Se o Théo não quiser sentar e tomar uma com seu velho, se ele for natureba demais pra isso? Poxa, vou lamentar muito! Tomar todas pra afogar minhas mágoas e... Aceitar, né?! O guri não curte uma bebidinha, devo ter feito algo errado... (embora desde cedo eu esteja dando bom exemplo, tomo as minhas somente nos dias em que não neva...)

Agora, tem algo que não dá pra aceitar: se ele inventar de não torcer por meu time? Ah! Aí, não vai dar pra agüentar! Que pai poderia suportar tamanha traição? Nesse caso, eu só veria um jeito: chinelo ou deserção!

Mas a mamãe é sábia.

Certamente sabia dessa minha provável reação quando, na primeira semana de nossa gravidez, muito antes de sabermos o sexo de nosso filho, deu um sapatinho do meu time de presente a nosso filhote.

E parece que aqueles que estão à nossa volta e nos amam também pensam dessa forma: recebemos dos padrinhos queridos um conjuntinho com camisa, meião, e calção oficiais do meu time. Já tem roupinha pra ir ao estádio!

E na semana passada, na ocasião do churrasco de comemoração pela vinda do Theo, meu sogro, outro grande torcedor, deu a nosso filho um tiptop lindo de nosso time!

Bem, parece que terei que voltar a pensar na birita, carne e praia. Futebol não será problema.

Gosto não se discute, mas eu espero que o Theozinho goste de futebol, carne, rock, birita e oooouuutras coisas boas da vida... como seu pai gosta. Ah, se gosta...



Um comentário:

  1. Aceitar se ele gostar de sertanejo ou pagode? Tem certeza? Aiaiai, vai ser difícil, hein? Meditação zen budista pra nos dar paciência e aceitar...!

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