GORDINHA




Dia 30 de Abril de 2009

Quantas vezes sua mulher lhe perguntou:

- Você acha que estou gordinha?

E sua resposta, qual foi? Bem, nem precisa me contar, eu já sei. Pois, se sua resposta foi alguma que não: “imagine, meu amor, você está ótima!” você nem estaria vivo pra ler esse blog...

Por mais que você seja casado com a Wilza Carla, uma mulher nunca, nunca mesmo pode ouvir um comentário sobre gordurinhas, estrias ou celulite (nesse último caso, qualquer comentário é homicídio na certa).

E cuidado com as tentativas de indiretas, do tipo “você não tem mais idade pra esse biquíni” ou “que tal entrar numa academia, é bom para o coração”. Ela vai sacar, não seja estúpido.

Pois bem, felizmente minha mulher nunca sequer esteve perto de poder ser tachada de algo que não fosse magérrima! Sempre teve um corpo escultural, perfeito, maravilhoso, com barriga chapada!

Mesmo assim, sempre que se olha no espelho se imagina uma balofa e me faz a tal pergunta fatídica...

Mas como a vida é engraçada, não? Depois que engravidou, tudo o que ela mais quer é um lindo e imenso barrigão redondo! Vive se olhando no espelho e reclamando da “ausência” de barriga. Outro dia estávamos saindo de um restaurante, ela parou, passou a mão na barriga e fez “a pergunta”:

- To bem gordinha, né?

Eu, ao contrário do lógico, respondi sem vacilar:

- Sim, tua barriga ta bem grande!

Não, meus caros, não fui para o hospital com fraturas exposta e bolsada na cabeça. Muito pelo contrário: ganhei como retribuição um belo sorriso de satisfação da mamãe, feliz com a constatação de que o filhote está a cada dia maior.

É... O Théo está crescendo, a barriga da Tati e nossa alegria também.

Porém, esses dias ela avisou:

- Depois que nosso filho nascer você vai ter que me pagar uma lipo!

E, lógico, lembrar que agora voltamos à resposta padrão:

- Lipo? Pra que lipo, você está ótima!





MEU PAI, MEU HERÓI


Dia 21 de abril

Esses dias a mamãe me perguntou:

- Será que você será o herói de nosso filho?

Fiquei quieto sem resposta, soltei um resmungo, não demonstrei dar muita bola à pergunta. Mas confesso que aquilo mexeu comigo.

Ser herói de alguém?

Engraçada a pergunta de minha esposa, pois eu já pensei muito na minha vida em ser o herói de alguém. Mas, na última vez que pensei nisso deveria ter uns 08 anos...

Fechava os olhos e pensava em ser o piloto destemido que salvava o avião em queda, com um uniforme branco e várias condecorações no braço! O jogador de futebol que fazia o gol do título (de bicicleta!). Ou o melhor de todos os sonhos: o homem-aranha saltando de teia em teia sobre os céus de Nova York, escalando arranha-céus e salvando mocinhas indefesas!

As possibilidades de “cargos” no mundo dos heróis eram infinitas! Como eu queria ser um herói...

O tempo passou, o candidato a herói cresceu. Foi fazer faculdade e estudar. Após estudar, começou a trabalhar, trabalhar e trabalhar ainda mais. Depois de trabalhar, voltou a estudar e continua a trabalhar, ralar, trabalhar, ralhar, trabalhar, estudar, trabalhar. Por aí...

Nesse meio tempo, não teve a oportunidade de salvar avião em queda, não fez o gol do título (aliás, não sabe jogar futebol, é uma verdadeira negação) e, por mais que tenha se esforçado pra subir as pelas paredes, não salvou nenhuma mocinha em perigo...

Semana passada, fui ao supermercado fazer compras de material de limpeza (que vergonha! Desde quando herói faz compra de material de limpeza? Essa minha versão “dono de casa” era pra ser identidade secreta!). Fim de dia, irritado e com dor de cabeça, estava lá, com a listinha na mão, procurando “amaciante de roupas”.

Os homens que já compraram amaciante de roupas sabem da tarefa hercúlea que estou narrando: deve haver uns 19 tipos diferentes de amaciante na estante do mercado (floral, menta, super macio, meio macio, brisa da manhã, maciez ultra-prolongada, roupas delicadas, etc, etc.). Como saber qual o correto? Tenho certeza que aquele que eu escolher vai ser o errado, a lei de Murphy não falha!

A essas horas um herói de verdade estaria sentado no alto do edifício mais alto da cidade, escolhendo entre salvar as vítimas de um ônibus em chamas ou acabar com um assalto a banco. Isso sim é dilema de herói!

Após sair nocauteado da batalha pelo amaciante, no corredor ao lado uma cena me chamou a atenção: uma mulher imensa e irritadíssima (parecia o quarterback do Dallas Cowboys) gralhava com o marido baixinho e careca, enquanto que o coitado levantava um galão d’água de 20 litros no carrinho. O camarada estava com uma cara de resignação de dar dó.

O filhinho do casal, sentado na cadeirinha do carrinho, alheio às patadas da monstrenga no seu velho, afirmava todo orgulhoso enquanto observava o esforço do pai:

- Meu pai é fortão.

...

“E então, será que você será o herói de nosso filho?”

Nossa! Lembrando da cena do supermercado, acabo de perceber que finalmente vou realizar meu sonho de infância, vou ser um herói! Não salvarei nenhum avião em queda nem subirei arranha-céus, vou ter uma missão bem mais importante: alimentar os sonhos de um pequeno menininho e mostrá-lo que um herói é feito de pequenos gestos diários que honram aquilo que nós homens temos no meio das pernas!

Mesmo que esse pequeno gesto seja agüentar pacientemente o mau humor da mulher em pleno supermercado, sem mandá-la para a p...

Se bem que... Com meu sangue radioativo correndo nas minhas veias de aranha e super poderes extra-sensoriais, duvido que isso me afete!


CHINELO OU DESERÇÃO


Dia 11 de abril

Feriado de Páscoa, mamãe e eu descemos para o litoral.

Embora não tão quente como o verão, o clima está maravilhoso, céu azul, sol o dia todo e a lotação da praia é ideal, sem aquele populacho lotando a areia e a calçada, ouvindo som alto, enchendo o saco!

Temos que aproveitar essas ocasiões, afinal estamos entrando no outono, logo vai esfriar de vez e na próxima ocasião que viermos pra praia a família estará maior, com a presença do pequeno Theo.

Felizmente, minha esposa, assim como eu, adora praia, sol e calor! E o Theo? Será que também vai ser assim?  Dizem que o fruto não cai longe do pé, mas... E se cair? E se ele não gostar das coisas que eu gosto?

E se ele não quiser vir para a praia com os pais? E se ele não fizer fotossíntese como o papai e a mamãe? Vou achar ruim, mas aceitar. Afinal, filho é filho.

Hum... E se ele não gostar de rock, como o pai? E se ele for um pagodeiro? E se ele ouvir axé? Sertanejo? O que eu faço? Vou lamentar bastante, mas terei que aceitar, fazer o quê? (desde que ele ponha o volume bem baixo e feche a porta do quarto pra porcaria não chegar a meus ouvidos...)

E se ele for um verdinho, desses que acha que comer carne é errado? Nossa, vou lamentar muito, mas muito mesmo (o que farei com a churrasqueira de minha futura mansão?) e, no fim das contas... Terei que aceitar, né? Fazer o quê?

Sashimi então? Nossa, vai ter que ficar em casa sozinho enquanto seus pais contribuem para a extinção do atum!

E se ele não gostar de um belo vinho? Ou de uma gelada, nesse calor?

Certa feita, quando era pequeno, segundo relatos familiares, fiquei bêbado e saí trançando as pernas ao lamber o dedo molhado em um copo de cerveja. Acho que foi aí que tudo começou... E é por isso que nesse momento interrompo por dois minutos esse texto para buscar uma cerveja, esse papo deu sede!

Um gole depois

Se o Théo não quiser sentar e tomar uma com seu velho, se ele for natureba demais pra isso? Poxa, vou lamentar muito! Tomar todas pra afogar minhas mágoas e... Aceitar, né?! O guri não curte uma bebidinha, devo ter feito algo errado... (embora desde cedo eu esteja dando bom exemplo, tomo as minhas somente nos dias em que não neva...)

Agora, tem algo que não dá pra aceitar: se ele inventar de não torcer por meu time? Ah! Aí, não vai dar pra agüentar! Que pai poderia suportar tamanha traição? Nesse caso, eu só veria um jeito: chinelo ou deserção!

Mas a mamãe é sábia.

Certamente sabia dessa minha provável reação quando, na primeira semana de nossa gravidez, muito antes de sabermos o sexo de nosso filho, deu um sapatinho do meu time de presente a nosso filhote.

E parece que aqueles que estão à nossa volta e nos amam também pensam dessa forma: recebemos dos padrinhos queridos um conjuntinho com camisa, meião, e calção oficiais do meu time. Já tem roupinha pra ir ao estádio!

E na semana passada, na ocasião do churrasco de comemoração pela vinda do Theo, meu sogro, outro grande torcedor, deu a nosso filho um tiptop lindo de nosso time!

Bem, parece que terei que voltar a pensar na birita, carne e praia. Futebol não será problema.

Gosto não se discute, mas eu espero que o Theozinho goste de futebol, carne, rock, birita e oooouuutras coisas boas da vida... como seu pai gosta. Ah, se gosta...



AVISO DE UTILIDADE PÚBLICA


Dia 02 de abril


Se você é um cara recém casado cuja esposa está esperando uma filha para 2009, ou ainda, um cara que teve uma menininha recentemente, gostaria de avisá-lo seriamente sobre um grave perigo que essa indefesa criatura estará sujeita daqui a alguns anos, mermão...

Talvez você ache exagero falar disso tão cedo, talvez prefira fechar os olhos para a ameaça que brevemente baterá às suas portas...

Bem, faça como quiser, meu velho! Mas eu não pecarei pela omissão e depois não venha me dizer que eu não lhe avisei, que não fui zeloso com a segurança de sua linda filhinha! Pois, em se tratando da segurança de uma linda filhinha, toda precaução é pouca...

O fato é que daqui a uns 15 anos, sua filha estará sujeita a esse mal e a cada ano, a cada dia o perigo aumentará!

Esse mal será capaz de virar a cabeça de sua filha, deixá-la doente, desesperada, alucinada, completamente dopada! Ela vai esquecer a família, te largar pra escanteio e achar que você é um velho chato que atrapalha sua vida!

Esse mal tem nome. Ele se chama THEODORO!

 “Mal? Mas porque tu chamas esse tal Theodoro de mal?” - você deve estar me perguntando, com essa tua cara de mané, não é?

Esse Theodoro será mal, muito mal. Será mal para você, rapaz!

Já para sua filha, seu bagual, o efeito será outro! Depois que ele aparecer tua princesinha não vai pensar em mais nada além desse “tal Theodoro”, um cara charmoso e divertido (vai puxar do papai, lógico!),lindo e sensual (como a mamãe que lhe carrega).

Imagine essa cena, meu camarada:

Você chegando em casa após um longo dia de trabalho, doido de saudades de sua filhinha, curioso pra sentar no sofá e conversar, ouví-la falar sobre suas amiguinhas, sobre a escolinha, sobre o que ela quer ser quando crescer ("advogada? Ohh, minha filhinha é tão esperta...”)

Mas... entrando em casa ela passa voando por você e, sem ao menos te olhar na cara, diz:

- Tchau, pai! Vou sair com o Théo!

Você vai ficar puto da cara (to até visualizando tua cara, de indignado, hahaah) e pensar: “Theo? Mas quem é esse Theo?”

Aí, my friend, você vai voltar alguns anos no tempo e lembrar as palavras que agora escrevo. Vai lembrar que eu fiz minha parte, que tentei lhe avisar. 

Pois é, se você não percebeu que tua gatinha virou uma mulher, e que agora tá em outra, o teu mal percebeu.

E o nome do teu mal é Theo.

Esse aí é teu mal.

Teu mal é esse aí.

Esse aí é Theo mal.

Theo mal é esse aí.

3h da manhã e a princesa ainda não voltou pra casa? Continuo imaginando tua cara de puto e dando risada...




Theo, papai não tem palavras para expressar tamanha felicidade! Estou rindo à toa! 
Obrigado, meu filho, você é mesmo um presente de Deus