Amor atômico


24 de março de 2009

Interrompo o incômodo silêncio que tomou conta de meu blog nos últimos meses para, nessa madrugada de terça, escrever algo que, para mim, é o texto mais significativo entre todos os anteriores e, possivelmente, vindouros.

Isso mesmo! O mais significativo! Afinal, essa quebra de silêncio deve ser proporcional ao tempo em que fiquei ausente, certo!

Não sei qual de meus órgãos vai coordenar a elaboração desse texto. Podemos dizer que o que você está prestes a ler será psicografado por meus dedos que se movem pelas ordens do... coração? Será que o amor sobre o qual quero falar vem mesmo do coração?

Vejamos.

Existem várias definições para amor.

A língua latina tem vários verbos correspondentes à palavra "amor". Amare é a base para a palavra ao amor, como ela ainda está em italiano atualmente (tá aí a razão para explicar porque os italianos são os amantes por excelência...). Ah! Antes de qualquer crítica: sim, eu uso o Wikipédia.

A religião define o amor de formas variadas. Tentando resumir todas em uma, gostei da definição de amor no ponto-de vista judáico: "dar sem esperar nada em troca". Meus amigos judeus transbordam bondade e se enquadram perfeitamente nessa definição. Mas nem todos à minha volta são judeus...

A grande maioria das definições de amor que encontrei fala do amor entre homem e mulher (ou melhor, sem homofobia: do amor entre um casal...) e se prolonga por parágrafos tentando distinguir amor de atração física, algo que muitos de nós em algum momento da vida já nos fomos obrigados a parar e refletir.

E por que? Porque o amor, esse amor entre cônjuges, amantes ou namorados nos deixa cegos e inebria o coração, órgão onde esse amor nasce, se desenvolve e, infelizmente, em alguns casos, morre ou é trocado por outro amor, mais jovem, sem celulite, barriguinha de chopp ou dívidas bancárias.

Hoje à tarde, parei para pensar sobre o amor.

Não sobre o amor que sinto por minha mulher, o está enrraizado no meu coração e não deixa de fazer brotar novas e vigorosas mudas diariamente. Parei pra pensar sobre um amor que sempre esteve presente na minha vida, mas que me tornei capaz de dimensioná-lo somente nos últimos 5 meses, quando passei a integrar seu pólo ativo: o amor de pai para filho.

O que é esse amor? Daonde ele vem?

Amor é fogo que arde sem se ver;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que se ganha em se perder.

(Obrigado, Camões, você chegou um pouco mais perto do que estou falando. Mas ainda não foi suficiente, melhore sua capacidade metafórica, um dia você chegará longe.)

Pois bem. O amor que passei a sentir nesses últimos 5 meses por meu pequenino polaco é algo que não consigo descrever com palavras suaves.

Alegre? Profundo? Amplo? Paterno? Não! Nada disso serve!!

É um sentimento tão violento, absurdo e exagerado do qual às vezes tenho até medo. O amor que tenho por meu filho não é Sonata de Schumann, é Sinfonia de Mahler!! É um sentimento que me acompanha o dia todo, como o alho da pizza de ontem!! Transpira pelos poros!!


Será normal? Será que estou pirando a cachola? O que me faz perceber que (ainda) não perdi as faculdades mentais e fritei o tico e teco é observar que minha mulher compartilha do mesmo sentimento, elevado provavelmente à décima potência, e continua em pé... (no caso dela, esse amor já virou uma obra dodecafônica...)

Então, por tudo isso eu lhes digo que o amor que sinto pelo meu polaquinho não vem do coração! O coração não é macho o suficiente para aguentar tamanha pressão! Desde que a loira linda o tomou, anos atrás, meu coração se tornou bunda mole, abobalhado e mansinho. Acho que ele está apaixonado...

O amor que sinto pelo moleque é algo que vem da profundeza de minhas entranhas, intestinal, enraizado desde a primeira molécula de meu corpo até o esmalte de meu ciso!

Quem é pai vai me entender.

Quem não é, por favor não mude o lado da calçada para não cruzar comigo na rua, continue falando comigo, me mandando emails, me tratando normalmente.

Eu não estou louco, estou apenas amando. Amando atomicamente.


6 comentários:

  1. Lindo!!!
    Ah! Pode usar o Wikipedia, só não pode citar como fonte... hahahaha

    Super beijo

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  2. Que belo texto, Mar!!! Parabéns!!

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  3. Oi Marcelo
    Muito bom, mesmo! Me identifiquei muito, agora com a Maria Augusta. Continuo acompanhando as novidades do Theo por aqui! Bjs para vocês todos.

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  4. Podes crer brow!
    Tenho um muleke de 16 e uma guria de 10 meses e assim como vc, já divaguei por essa senda elocúbrica de tentar verbalizar o amor por um(a) filho(a). A única coisa q sei é q a "intensidade" é a mesma com q as pessoas comete uma loucura, pq com certeza esse amor transcende a linha da sensatez.
    Na verdade ESTAMOS ATOMICAMENTE AMANDO LOUCAMENTE estas pequenas criaturas! Parabéns pelo seu polaquinho e pelo seu blog!

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  5. pude notar que muitos cometários são feitos por mulheres, que tem esse amor de forma singela como algo comum... acredito ter falado isso pra minha esposa. ''Vocês mulheres tem a gestação de 9 meses de um nova vida, uma nova alma, uma pessoa com sentimentos e amor que virá a ser dado ao mundo, e nós pais temos somente o acompanhar disso tudo, não sentimos nada, mas vemos e desejamos, e são 9 meses de algo crescendo e expectativas sendo geradas, que ao sentir em nossos braços, escutando os sorrisos e gargalhadas, podemos rir, chorar, gritar e ser criança novamente sem medo, vergonha ou outra coisa qualquer que no dia a dia antes de ser pai, tinhamos. AME A TODOS

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