Dia 17 de maio de 2009
Não, errou, Shantala não é personagem da novela das oito.
Shantala é o nome de uma mulher indiana que foi “descoberta” por um médico francês, massageando seu filho de colo nas palpérrimas ruas da Índia, nos anos 70 do século passado...
Tá. E daí?
E daí que há alguns meses minha mulher me comunicou:
- Vamos fazer um curso de Shantala.
“Hã?” – pensei –“deve ser outra modinha dessa novela que ela assiste toda noite”.
Após saber que se tratava de um curso de massagem indiana de um fim de semana (para o casal), minha revolta foi total! Massagem? Indiana? Justo eu que odeio ioguices, mantras, chakras e coisas do gênero? Justo que eu não acredito em nada que não possa ser explicado por uma fórmula matemática? Minha revolta quintuplicou depois que soube do preço... Centenas de reais! Poderia elencar umas 500 maneiras mais interessantes de gastar meu dinheiro do que fazendo aquele curso!
Como resultado da revolta consegui negociar uma redução para um curso de 2 horas de duração, o qual eu faria sozinho em uma sexta-feira pela manhã. Sozinho? Eu e várias grávidas em uma sala tendo aula de massagem? Aiaiai...
Voltemos à Shantala e à India dos anos 70. Algo intrigava o tal médico francês: como que um lugar tão carente e miserável (algo me diz que a verdadeira Índia não é bem aquela da novela...) abrigava crianças tão alegres, robustas e bem desenvolvidas?
A explicação, descobriria ele mais tarde, veio de dias de observação do carinho entre Shantala e seu filho e da massagem que a indiana praticava diariamente no filho.
Minha revolta, descobriria eu mais tarde, foi em vão, pois percebi que estava diante de algo capaz de contribuir para o desenvolvimento de meu filho, de nossa relação e de fazer bem para minha cachola!
A tal massagem se tratava de um costume milenar regional, passado de geração para geração, que o médico francês batizou de... Shantala.
Agora cá estou eu, descalço e sentado em um carpete, com um bebê de plástico no colo, ouvindo e executando em meu filho artificial as orientações do professor de Shantala. E, ao contrário do que se poderia esperar... Achei fantástico!
Não tem nada de místico, extracorpóreo ou transcendental (se tivesse eu não estaria enchendo meu blog com tais bobagens...), é algo físico e, acima de tudo, emocional!
É um momento único diário para você esvaziar a cabeça, esquecer as preocupações e aporrinhações do dia-a-dia e dedicar alguns minutos de sua vida exclusivamente ao filho!
E isso pode se tornar ainda mais relevante no caso dos pais: segundo uns textos que andei lendo, os homens são condicionados pela sociedade a reprimir desde a infância seu lado materno. Porém, podemos descobrir que somos excelentes mães quando essa descoberta ocorre em uma relação segura que não suje nossa masculinidade.
Calma, cara, não precisa vestir peruca e lamentar o fato de não sair leite desses mamilos cabeludos! Eu disse que não vamos sujar nossa masculinidade! Sem viadagem!
Mordi minha língua, engoli as críticas e concluí que a Shantala é um excelente caminho para resgatarmos nosso instinto de “pães” e estabelecermos um vínculo sadio e profundo com nosso pequeno amigo!
Só não vá me inventar de botar pétalas de rosas e acender velas perfumadas ao redor de teu filho. Já disse, sem viadagens!
Saindo do curso no final da manhã resolvi voltar pra casa a pé e aproveitar o sol magnífico que esquentava o dia, até então, mais frio do ano: clima típico do inverno curitibano.
Havia sido uma semana pesada no trabalho, várias preocupações rondavam minha cabeça. Porém, as duas horas daquela manhã que dediquei exclusivamente a meu filho (mesmo antes dele existir) me deixaram alegre, animado e me fizeram esquecer, ou melhor, olhar de forma muito mais otimista os problemas da vida!
Mais uma vez percebi a benção que essa criança será em minha vida e que ao lhe fazer o bem estarei edificando o meu próprio bem-estar.
Obrigado, Théo!
Ah! E depois dessa manhã não posso deixar de agradecer à Índia e sua cultura milenar! Obrigado, Dona Shantala!
Algumas quadras mais pra frente uma vitrine colorida me chama a atenção, era uma loja de artigos indianos.
“Ah! Esse modismo das novelas...” – pensei.
Se bem que aquele sari azul turquesa ficaria um luxo em mim...